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O cerco digital a que alegremente vamos assistindo continua a apertar cada vez mais a nossa relação com o mundo, anteriormente, conhecida como realidade. Toda a nossa vida passou a ser mediada por ecrãs, quer dizer, por combinações algorítmicas que se corporizam em pixels. Que dizer dos turistas que, em frente a uma montanha não olham, mas fotografam; que, em frente a uma obra de arte não vêm, fotografam, etc. Parece que já não conseguimos ter uma relação com a vida não mediada pelo ecrã. Uma das últimas novidades a este nível, é a crescente introdução na iluminação pública das cidades, de candeeiros activados por conjuntos de leds. Normalmen ordenados numa grelha rectangular, os pequenos pontos de luz multiplicam-se naquilo que aparentemente se transforma numa espécie de projector de luz digital. A iluminação que fornecem é, ela também, tornada pixelizada. Uma situação, em particular, tem chamado a minha atenção (para lá, de já ser do conhecimento público que esta luz não é benéfica para a saúde dos humanos): o aparecimento nas nossas ruas de uma realidade nova, desrealizada, pixelizada. Os candeeiros, altos, projectaram sempre sombras nas paredes e chão das ruas. Agora, projectam uma imagem pixelizada das outrora sombras da realidade. No caso da imagem em causa, trata-se da sombra das folhas de uma árvore numa parede e, no entanto, nada disso é passível de ser visto. Apenas uma abstracção de pixels que vão ocupando a folha de papel…das folhas, as da natureza, nenhuma identificação possível. Resta a imagem, qualquer.